sexta-feira, 9 de março de 2007

Texto motivado pela leitura do poema "A Fuga", de Miguel Torga


Fui até ao parque. Só tive tempo de fazer um rascunho numa folha e de a deixar na mesa do hall. Fugi de tudo e todos, aconchegando-me no banco mais distante e mais escondido entre as árvores. Já as luzes acesas dos candeeiros citadinos não eram suficientes para iluminar todo aquele recinto. Mas não me importei, sinceramente, naquela altura nada me importava.
O que realmente queria era fugir à confusão diária. Tudo aquilo que me faz viver um dia numa hora e que, por isso, não sabe a nada. O acordar mal disposto, o pequeno almoço que engulo de uma só vez, o trânsito insuportável, os casos de corrupção, as caras saturadas lá no emprego, as pessoas que se dizem amigas e ficam-se só por aí, o trabalho e prazos que tenho que cumprir, os programas de TV tão banais, as telenovelas pastilha elástica, os vizinhos mais chatos que se pode ter, os casos deprimentes a que ninguém deita a mão… Punha tudo num saco bem fechado e atirava-o para longe. Não sei se era o mais certo de fazer, mas sem dúvida que a curto prazo me sentiria melhor. Não me agradava o modo natural (ou não) de as coisas acontecerem, a maneira sem graça de passar os dias e toda a falta de regalias que temos. Mas a verdade é que também não encontrei solução para uma mudança na vida.
Se calhar precisava de ter tempo para mim… sei que isso é fundamental. Falar comigo e ouvir-me é sempre vantajoso porque acabo por me conhecer melhor e claro, vou crescendo em todos os sentidos. Por isso, penso que se pudesse fechava-me no meu quarto e no escuro permaneceria até ficar menos abafada deste mundo. Chamar-me-iam doente, com certeza, mas quem sabe, não criaria um mundo só meu onde tudo fosse mais fácil e onde me sentisse livre.
O tocar do meu telemóvel fez-me despertar ecoando pela rua deserta do parque. Resolvi não atender mas… a curiosidade falou mais alto e ao ver que era a minha melhor amiga (aquela com quem divido a casa) quem me ligava, atendi. Mais uma vez uma amiga assídua que se preocupava comigo, querendo saber se estava tudo bem. Tinha-se inquietado por ver na mesinha do hall a única pista acerca do meu paradeiro: “ Fugi de Tudo. Volto Tarde.”
Sílvia Rafael, 10º C

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